Auditório Professor Rodrigo Ferreira Simões

Proposta de Homenagem da Face ao Professor Rodrigo Ferreira Simões

Em 19 de agosto de 2016, Rodrigo Ferreira Simões, Professor do Departamento de Ciências Econômicas da FACE-UFMG, faleceu inesperadamente. Rodrigo tinha recém completado cinquenta anos de idade.

A notícia foi recebida com enorme surpresa e perplexidade por colegas e amigos na universidade. Rodrigo havia se tornado uma referência para todos que com ele conviveram, seja do ponto de vista profissional, seja do ponto de vista pessoal. No Departamento de Ciências Econômicas e no Cedeplar, devido a sua atuação institucional e a sua presença, se tornou um elo essencial entre as diversas gerações de professores e entre diferentes correntes de pensamento e áreas de pesquisa. De fato, um rápido exercício de memória revela que, na história recente da Faculdade, poucos temas relevantes para nossa comunidade foram discutidos sem seu envolvimento direto ou indireto.

Assim, dizer que a Faculdade sofreu uma perda irreparável não é uma hipérbole. Como observado pelo Professor Roberto Luís de Melo Monte-Mór, em sessão solene de homenagem a Rodrigo durante o XVII Seminário sobre a Economia Mineira, realizado na cidade de Diamantina uma semana após sua morte, em pouco tempo as pessoas começaram a perceber a dimensão dos afetos e da importância que Rodrigo tinha em suas vidas.

Essa percepção certamente foi uma das marcas das diversas homenagens que se seguiram, realizadas por várias associações acadêmicas nacionais (ANPUR, ABEP, ABER, ANPEC) e internacionais, assim como nas muitas manifestações pessoais que se espalharam pelas redes sociais. Nessas ocasiões, como em tantas outras, se multiplicam os relatos, estórias e casos que passaram a estampar a vida de quem foi aluno, conviveu ou trabalhou – ou uma combinação dessas três opções – com Rodrigo ao longo da vida.

Assim, o impacto do desaparecimento prematuro desse personagem tão influente dificilmente por ser inteiramente compreendido nesse momento. Contudo, a escala da perda institucional pode ser pelo menos inferida a partir da sua longa trajetória nesta Faculdade.

Rodrigo cursou Ciências Econômicas na FACE entre 1985 e 1988. Egresso do curso de técnico em mecânica do CEFET-MG, demonstrou talento acadêmico precocemente, muito embora fizesse questão de lembrar que sua primeira experiência profissional foi na Mannesmann. Como estudante de graduação, começou sua carreira como pesquisador como bolsista de iniciação científica. Já na carreira de docente deu os primeiros passos como monitor de graduação. Foi dessa forma que conheceu vários alunos contemporâneos que vieram a se tornar seus colegas de departamento. Assim como outros colegas dessa geração, teve participação ativa na política estudantil, sendo membro do DA-FACE de 1986 a 1988. Durante esse tempo, foi ainda representante discente da Câmara Departamental e da Egrégia Congregação da FACE. Na conclusão do curso, foi agraciado com o primeiro lugar do Prêmio Minas de Economia por sua monografia, orientada pelo Prof. Maurício Borges Lemos. Sua tradicional eloquência foi reconhecida por seus pares, que o escolheram orador na cerimônia de formatura.

Em termos profissionais, Rodrigo continuou suas atividades na Face e no Cedeplar como pesquisador após sua formatura. Em seguida iniciou sua trajetória docente na FACE em 1992 como professor substituto, quando ainda cursava o mestrado em economia na Unicamp. Entre 1993 e 2003, dividiu suas atividades entre a Face e a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, onde lecionou Contabilidade Social, Tópicos Especiais em Economia, Técnicas de Pesquisa em Economia e Economia Urbana para os cursos de Economia e Arquitetura e Urbanismo. Durante esse tempo, foi também assessor da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da PUC-MG.

A partir de 2003, após concluir o doutorado, se tornou professor do quadro permanente do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG. Considerados os dois períodos, ministrou na Face as disciplinas de História do Pensamento Econômico, História Econômica do Brasil, Economia Brasileira e Técnicas de Pesquisa em Economia. Contudo, as disciplinas de Economia Regional e Urbana, em parceria com Roberto Luís de Melo Monte-Mór, e de Métodos de Análise Regional e Urbana se tornaram suas principais marcas acadêmicas na FACE e no Cedeplar. Por essa atividade, Rodrigo foi muitas vezes escolhido como professor homenageado e paraninfo das turmas de formandos. Além da docência nas disciplinas mencionadas, Rodrigo sempre se destacou por ser um exímio orientador de monografias, dissertações e teses, muitas delas premiadas.

O sucesso da docência não expressa, entretanto, toda a extensão da impressão que Rodrigo teve sobre seus alunos e alunas. Não por acaso, sempre repetia a frase “a atividade pedagógica não acaba nunca”, em especial para ex-alunos e ex-alunas, muitas vezes já experientes em suas próprias vidas profissionais. Essa influência prolongada talvez possa ser explicada, de certa forma, por seu método de alto impacto, que combinava frequentemente a acidez do senso de mau-humor com a conhecida e caricatural postura cética sempre do contra.

Mais do que isso, era um exemplo vivo de uma postura ética rara. Rodrigo não cultivava preconceitos e rejeitava visceralmente qualquer forma de moralismo. Essa atitude, que foi sendo ativa e meticulosamente aperfeiçoada ao longo do tempo, era, para jovens permeáveis ao pensamento crítico, nada menos que revolucionária. Devido a essa postura, foi se tornando uma referência, um filtro, uma espécie de parâmetro em relação ao qual amigos e colegas frequentemente avaliavam, com maior ou menor grau de consciência, suas próprias ações e posturas dentro e fora da faculdade.

Durante toda a sua carreira acadêmica, além da notória participação em ensino, pesquisa e extensão, Rodrigo também teve perene participação em atividades administrativas, uma cultura que absorveu de seus mestres e que fazia questão de gravar em novas gerações de professores. Na FACE, Rodrigo foi Chefe do Departamento de Ciências Econômicas, membro da Egrégia Congregação da FACE, membro quase permanente da Câmara do Departamento de Ciências Econômicas, membro do Colegiado de Pós-Graduação do Programa de Economia do Cedeplar, com destacada participação no comitê de área da CAPES, e vice-diretor do Cedeplar. Fora da Face, participou ativamente de várias associações, mais notadamente da ANPUR, da qual era presidente.

Outra característica fundamental de sua trajetória na universidade foi seu envolvimento com a vida cultural da FACE e da UFMG. Ainda como aluno, foi membro do Cineclube e, como representante do DA, participou ativamente da organização das atividades culturais da Rua Curitiba, onde se encontrava a FACE então. Como professor, ajudou a criar a tradição das atividades culturais dos Seminários sobre a Economia Mineira, em Diamantina. Lá, sempre foi o esteio dos festins noturnos que agregaram diversas gerações de professores, pesquisadores e alunos das mais diversas áreas. Mais recentemente, Festivais de Verão da UFMG de 2010 e 2016, ministrou cursos sobre Narrativas Visuais dos Desfiles de Escolas de Samba sendo a primeira experiência realizada em sala e pelos corredores da FACE.

Como já foi lembrado, durante muito tempo, Rodrigo foi também membro da Egrégia Congregação da Faculdade de Ciências Econômicas. Esse envolvimento começou ainda como representante discente. Nessa instituição, teve influência definitiva em diversos momentos importantes da Faculdade, mesclando memoráveis e passionais participações, em especial na defesa dos direitos dos alunos, dos funcionários técnico-administrativos em educação, com a busca de consenso entre os diversos departamentos e segmentos que compõem nossa faculdade.

Desde sua primeira participação em uma reunião da Congregação da FACE, como aluno nos anos 80, até a sua última, como vice-diretor do Cedeplar em 2016, três décadas se passaram. Embora tenha partido cedo demais, Rodrigo teve uma vida inteira de Faculdade de Ciências Econômicas, de Universidade Federal de Minas Gerais.

Essa longa trajetória na escola, que era como se sempre referia à FACE, certamente inspirará lembranças, memórias e infinitos casos. Contudo, transformar a memória em cultura, em instituição, é uma responsabilidade coletiva da nossa comunidade. Uma responsabilidade grande, uma vez que sua participação na vida da FACE sempre foi multi-tudo. Assim, prestar uma homenagem que expresse o compromisso de perpetuar um conjunto de valores que são integrais à nossa unidade é fundamental.

Por isso, por seu caráter simbólico, nós abaixo assinados, apresentamos para a Egrégia Congregação da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG a proposta de atribuir à atual sala 1070 o nome de Auditório Professor Rodrigo Ferreira Simões, com o objetivo de registrar essa participação multifacetada em todos os âmbitos da vida universitária.

Texto apresentado e aprovado pela Egrégia Congregação da Faculdade de Ciências Economicas em 18 de maio de 2017, atribuindo à antiga sala 1070 o nome de Auditório Professor Rodrigo Ferreira Simões.